Histórias e geografias que os lugares revelam
Os lugares e suas paisagens mudam com o passar do tempo, possuem uma história. Talvez fosse mais correto afirmar que possuem várias histórias, pois os elementos de qualquer paisagem estão submetidos a diversas forças, cujas ações obedecem a diferentes ritmos de tempo.
A cidade é circundada por altas montanhas, com picos gelados, que formam uma espécie de muralha protetora. As elevações que vemos fazem parte da cordilheira dos Andes, que se estende ao longo de quase toda a costa da América do Sul voltada para o oceano Pacífico. Para explicar paisagens como essa, da capital chilena, é necessário recorrer à história e às particularidades das atividades humanas nela representadas, bem como à história e às características das atividades geológicas, que a imagem sugere terem sido muito intensas.
Forças distintas, em tempos muito diferentes e subordinadas a histórias e dinâmicas também diversas, são responsáveis pela cidade, pela cordilheira e pela neve que tinge os seus cumes.
Mesmo sem conhecer a história do Chile ou de Santiago, pode-se dizer – pelo que já foi estudado nos capítulos anteriores – que a diversidade de aspectos visíveis no trecho fotografado deve-se, como em outros lugares semelhantes a esse, às diversas relações que as pessoas estabelecem para levar adiante seu modo de vida. Além disso, se fosse possível esquadrinhar a imagem em minúcias, seriam notáveis os registros deixados nas paisagens pelas histórias de seus habitantes, verificando construções antigas ao lado de novas, pobres ao lado das ricas, serviços diferenciados para atender as mais diversas necessidades, bem como obras em andamento (novas construções, novas ruas e avenidas, novos meios de transporte etc.).
Como em qualquer outra cidade, tanto as marcas do passado quanto as do presente, e também aquelas que indicam pretensões futuras, evidenciam esses registros e dotam as paisagens de características que resultam da mescla de tempos diversos.
Porém, no caso dessa paisagem específica, chamam a atenção de imediato a cordilheira e seus picos gelados. No entanto, não há como explicar ou entender sua presença apenas com o que foi estudado até aqui. Trata-se de um fenômeno de outra ordem, que não está relacionado à história dos homens, mas à história da Terra, de sua natureza e de sua geologia.
A paisagem, portanto, mostra uma realidade em que os aspectos humanos – sociais, históricos, econômicos e culturais -encontram-se associados e relacionados aos aspectos físicos ou naturais (da geologia, do clima e do relevo).
Como visto no capítulo anterior, essa condição que a cidade de Santiago revela, de uma paisagem ao mesmo tempo humana e física ou natural, hoje em dia é válida para toda e qualquer paisagem da superfície terrestre.
Hoje, como mostrou o exemplo dos pinguins da Antártida e de seus lugares, no capítulo anterior, as paisagens terrestres são realidades complexas que resultam da interação de diversos aspectos físico-naturais e humano-culturais. A palavra hoje está destacada porque nem sempre foi assim. Houve época em que toda a Terra foi uma realidade sem nada de humana ou de cultural, apenas física ou natural.
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Durante milhões de anos, pelo menos até o aparecimento da vida, as paisagens terrestres foram realidades apenas físico–naturais. Após o aparecimento de diversas manifestações de vida, e ainda muito antes do surgimento do homem, plantas e animais passaram a ser componentes ativos e modificadores das paisagens terrestres. Essas paisagens, então, passaram a ser também produzidas pelas forças vivas, biológicas, que se espalharam por toda a Terra.
A esse cenário físico e biológico, ou biofísico, o homem só se incorporaria muitos milhões de anos depois do aparecimento das primeiras formas de vida. Ou seja, a Terra era comandada apenas pelas forças físicas, não vivas, relacionadas às origens do Universo, e incorporou um fator biológico; posteriormente, as paisagens de todo o mundo passaram a ser modificadas também pelas atividades dos seres humanos. Vale a pena detalhar um pouco como tudo isso aconteceu.