História do Egito Antigo Resumo
A civilização do Nilo
O rio Nilo nasce no lago Vitória, na fronteira entre os atuais Quênia, Uganda e Tanzânia, e corre cerca de 6450 quilômetros até formar um gigantesco delta que deságua no mar Mediterrâneo. Ao longo da História, as cheias anuais que se originavam na África Equatorial, local das nascentes do rio, fertilizavam as terras ao longo de seu curso, permitindo a produção agrícola.
A civilização egípcia desenvolveu-se às margens do rio Nilo, graças ao trabalho intenso dos camponeses, sob o domínio dos faraós.
O mapa identifica as duas regiões em que se dividiam naturalmente as férteis terras do Egito Antigo: o vale, denominado Alto Egito, e o delta, o Baixo Egito.
Primórdios da civilização
Na época neolítica, com a revolução agrícola as terras irrigadas naturalmente pelo rio Nilo atraíram povos de diversas etnias, oriundos do Sul, do Oeste e do Leste. Esse processo de sedentarização ocorreu por volta de 6 a 5 mil anos antes de Cristo.
As enchentes anuais do rio Nilo facilitaram a fixação de comunidades que prosperaram às suas margens. As águas das cheias traziam e depositavam grande quantidade de matéria orgânica nas áreas inundadas. Essa matéria orgânica se decompunha transformando-se em húmus, que adubava as terras permitindo a obtenção de boas colheitas, exceto nos anos em que o volume de água era pequeno.
A agricultura tornou-se a principal atividade econômica desses grupos, que desenvolveram técnicas para o aproveitamento integral das cheias do Nilo, como a construção de reservatórios de água, diques para evitar inundações e canais de irrigação para aumentar a área de cultivo.
Essas obras hidráulicas exigiam esforço coletivo, o que levou as comunidades a se. agruparem.
Politicamente, as comunidades organizaram-se em tribos. As tribos formaram grupos maiores, os nomos. Os nomos, por sua vez, agruparam-se em dois reinos: no Norte, o reino do Baixo Egito, que ocupava a região do delta; no Sul, o reino do Alto Egito, no vale do Nilo.
Por volta de 3100 a.C., o faraó Menés, do Alto Egito, conquistou o Baixo Egito para dominar a fértil área do delta. Essa conquista deu origem ao Estado egípcio.
Estado e sociedade
O longo período da história do Egito posterior à unificação feita por Menés foi dividido em três grandes fases, em que reinaram diferentes dinastias.
O império dos faraós
O Antigo Império vai de 3200 a.C. a 2000 a.C. Nesse período, os faraós, a nobreza e os funcionários estatais organizaram uma monarquia poderosa, cuja base era o poder teocrático. O faraó exercia o poder como representante de uma divindade. Destacaram-se nesse período os faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos, famosos pela construção das grandes pirâmides de Gizé, entre 2700 a.C. e 2600 a.C.
Entre 2400 a.C. e 2000 a.C., o poder central sofreu um processo de enfraquecimento pela ação dos nomarcas, chefes dos nomos, apoiados pela nobreza.
O Médio Império, de 2000 a.C. a 1580 a.C., foi marcado pela retomada do poder pelos faraós, que reorganizaram o Estado. Entre 1800 a.C. e 1700 a.C., os hebreus migraram para o Egito em busca de melhores condições de vida. Em 1750 a.C. o país foi invadido pelos hicsos, povo originário da Ásia. Eles conquistaram rapidamente o Egito porque usavam carros de guerra puxados por cavalos, que não eram conhecidos pelos egípcios.
No Novo Império, que vai de 1580 a.C. a 1085 a.C., os faraós do Alto Egito expulsaram os hicsos e iniciaram uma fase de conquistas militares.
Nesse período, o faraó Amenófis IV promoveu uma revolução religiosa, adotando o culto a um único deus, Áton, o disco solar. Mudou seu nome para Ikh-náton, “servidor de Áton”. Ao diminuir a influência dos sacerdotes, o soberano aumentou o seu poder político-religioso. A tentativa de implantação do monoteísmo acabou quando ele morreu e seu sucessor, Tutancâmon, retomou o culto aos deuses tradicionais.
Ramsés II, que ficou no poder por 66 anos, mandou construir grandes templos e estátuas na Núbia, atual Sudão, ao sul do Egito, além de se apropriar de outros, apagando os nomes dos faraós originais e substituindo-os pelo seu nome.
Destaca-se o impressionante templo Ramsés ll mandou construir esse de Abu Simbel, escavado na rocha ao lado do Nilo.
Declínio
Aproximadamente em 1080 a.C. começa o período de declínio do estado Egípcio, que foi conquistado pelos assírios em 670 a.C.
Em 662 a.C. o Egito retomou sua independência, com um período de renascimento cultural. No entanto, foi derrotado pelos persas, em 525 a.C.; incorporado ao Império de Alexandre, o Grande, em 331 a.C.; e finalmente foi dominado pelos romanos em 30 a.C., tornando-se uma província do Império Romano.
Sociedade
A população egípcia era organizada em classes. No topo da hierarquia social estava o faraó, senhor de tudo o que era produzido na terra.
Os sacerdotes formavam a camada social mais elevada e mais culta. Eram responsáveis pela transmissão dos conhecimentos e pelas práticas religiosas. Além das terras doadas pelo faraó, os sacerdotes também recebiam doações dos nobres e da população em geral para intervir favoravelmente junto aos deuses. Os sacerdotes eram personalidades influentes em suas comunidades e preservavam a profissão para seus filhos.
Os nobres eram altos funcionários do Estado, que auxiliavam o faraó na administração, na defesa e no.comércio exterior. Recebiam altos salários e viviam cercados de luxo e conforto.
Os escribas eram os que aprenderam a ler e a escrever e ocupavam os cargos de funcionários da administração do Estado, tornando-se os executores das ordens do faraó. Daí provinha o prestígio de que desfrutavam. Eram eles que conferiam os rebanhos e a produção agrícola e coletavam os impostos.
Dominar a escrita egípcia, principalmente os hieróglifos, a escrita oficial, era muito difícil. Os hieróglifos eram desenhos, os ícones, mas cada ícone poderia simbolizar um significado ou um som, dependendo da situação. Além disso, ao longo da história egípcia hieróglifos novos surgiam, e os antigos caíam em desuso. São conhecidos cerca de 6 mil hieróglifos, mas isso não significa que todos foram utilizados ao mesmo tempo. A média, por período, era de menos de mil hieróglifos, ou seja, o escriba dominava quase mil ícones com diferentes sons e significados.
Os soldados eram geralmente mercenários recrutados no estrangeiro, que recebiam lotes de terra e estavam presos a serviço do faraó. Para manter o equilíbrio das atividades produtoras, evitava-se o recrutamento de camponeses para o serviço militar.
Os artesãos pertenciam à camada inferior, mas viviam mais próximos dos ricos para os quais trabalhavam e em condições melhores do que os camponeses.
O artesanato era diversificado e elaborado. Os bons artesãos eram bastante requisitados e abriam oficinas próprias. Havia oleiros, pedreiros, pintores, escultores, ourives, tecelões, vidreiros, carpinteiros, cesteiros e padeiros. No entanto, o faraó e os templos controlavam as oficinas de alto luxo destinadas às elites, como as oficinas de joias, de tecidos de linho, de móveis folheados a ouro, de esculturas e pinturas refinadas, de objetos de vidro e pratos de faiança da mais alta qualidade.
Os camponeses – felás – trabalhavam exaustivamente nos campos, logo após o fim das enchentes. Eles semeavam e irrigavam as culturas e faziam a limpeza das plantações até a colheita. Após a colheita, pagavam os impostos ao faraó ou aos donos da terra, nobres ou sacerdotes.
Sobrava pouco para a família camponesa e, todos os anos, eles também eram obrigados a trabalhar em obras estatais, como conserto de canais de irrigação ou obras monumentais, como palácios ou túmulos.
Os escravos eram minoria na sociedade. Eram mais numerosos em períodos de guerra, já que quase todos eram prisioneiros. Os escravos eram caros e apenas a nobreza utilizava seus serviços.
Deuses e faraós
Os egípcios eram politeístas, isto é, acreditavam em numerosos deuses, reminiscência dos tempos em que viviam em comunidades agrárias independentes, anteriores à unificação do Império.
A divindade mais popular era Osíris, que, segundo a mitologia egípcia, teria sido rei na região do delta e ensinado aos camponeses o cultivo da terra. Era o deus do Nilo.
Os faraós
Os maiores e mais importantes túmulos egípcios pertenciam aos faraós.
Esses túmulos evoluíram das mastabas, que tinham forma de tronco de pirâmide, para as grandes pirâmides, e por fim para os hipogeus, construções funerárias subterrâneas ou escavadas na rocha. Havia uma preocupação em proteger os tesouros que eram colocados nos túmulos contra ladrões de sepulturas.
A religião era a base do poder político do faraó. Ele era considerado filho do deus Amon-Rá. Não havia separação entre poder político e religioso. O faraó possuía poder teocrático, um poder dito divino que fundia funções político-administrativas com funções religiosas, como a de supremo sacerdote de Amon-Rá.
Ao faraó cabia o controle do cultivo e das obras às margens do Nilo e também o comando do exército, da justiça, das minas, dos celeiros e dos templos. Tamanho poder possibilitou uma concentração de forças para a construção de gigantescos templos e monumentos funerários, como as pirâmides.
Milhares de trabalhadores egípcios, recrutados entre os agricultores e artesãos, foram os responsáveis pela construção dos símbolos do poder do faraó.
A vida às margens do Nilo
A vida dos camponeses do Egito era regulada pelas cheias e vazantes do Nilo.
O começo do ano egípcio era em junho, a estação das cheias. Quando as inundações eram abundantes, a população orava e agradecia aos deuses, principalmente ao deus Hapi, que representava o próprio Nilo.
Durante as cheias, os campos ficavam inundados e os camponeses eram convocados para trabalhar em obras do Estado.
Em setembro eles começavam a arar os campos para misturar o húmus, a lama fértil que o Nilo deixava sobre o solo. O trabalho deveria ser feito assim que as águas baixavam, senão o Sol ressecava o húmus. Depois de arar, era hora de semear. As sementes eram jogadas na terra e os porcos ou cabras soltos nos campos ajudavam a afundar as sementes de cevada, trigo, lentilha, pepino, cebola e frutas como melancias e melões. O linho, utilizado para fazer tecidos, demorava um ano para ser colhido. Cevada e trigo eram colhidos em três meses.
Na segunda estação do ano, de outubro a fevereiro, as terras ficavam irrigadas com as águas da inundação armazenadas em canais. Nos campos distantes dos canais, a água era retirada com o shaduj, instrumento utilizado até hoje pelos camponeses do Egito.
Em março começava a terceira estação, a estação da colheita. A colheita devia terminar antes de junho, o auge do verão. Nessa estação, os camponeses aproveitavam que os canais estavam praticamente secos para consertá-los e deixá-los preparados para a próxima enchente.
Se as cheias não fossem abundantes ou ocorressem pragas, como nuvens de gafanhotos ou ataques de ratos do campo, ocorriam os temidos períodos de fome e milhares de pessoas morriam, principalmente os camponeses.
Os camponeses eram em geral muito pobres e trabalhavam no limite de suas forças. Alimentavam-se de pão de trigo, cebola, peixe e cerveja, ou seja, com o mínimo que conseguiam depois de pagar as taxas que deviam pelo uso da terra. Viviam em casebres com pouca mobília, construídos com barro e palha, com um buraco no teto para a saída da fumaça.
Economia
A base da economia egípcia era a agricultura, possível graças às condições favoráveis do vale do rio Nilo. As terras pertenciam nominalmente ao faraó.
O comércio externo desenvolveu-se, a partir de 2000 a.C., com Creta, Fenícia, Palestina e Síria. Os egípcios exportavam trigo, tecidos de linho e cerâmica. Importavam metais preciosos, marfim e madeira. Não cunhavam moedas. O comércio local era feito à base de troca, mas nas transações mais complexas utilizavam argolas de ouro e cobre com peso fixo. Encontra-se aí o início de um sistema monetário.
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O transporte das mercadorias para o exterior era realizado em barcos, a remo ou a vela. A parte terrestre era feita em caravanas de camelos ou asnos.
Outra atividade econômica importante era a manufatura. As oficinas ocupavam um número considerável de trabalhadores e produziam cerâmica, vidro e tecidos. Para a indústria têxtil empregavam o linho.
O Estado controlava a economia: era efetivamente o grande agente econômico do período. Atuava na construção de túmulos, templos, diques e canais, bem como na exploração das pedreiras e minas.
Durante o Novo Império, em decorrência da política expansionista, que exigia mais gastos, intensificou-se a política de controle do Estado. Toda a produção estava voltada para prover o governo de condições para realizar suas conquistas territoriais.
Conhecimentos
Os egípcios aprenderam a registrar todas as suas conquistas. Desenvolveram um sistema de escrita, que inicialmente era composta de sinais pictográficos, os hieróglifos, que representavam objetos e depois sílabas. Foram os precursores do alfabeto, que mais tarde foi inventado e difundido pelos fenícios. Escreviam principalmente sobre papiro, produzido de uma planta de mesmo nome, comum nas margens do Nilo; mas também sobre linho e couro, além dos textos esculpidos na pedra.
A ciência estava voltada para as realizações práticas, como determinar a época das cheias do Nilo, construir canais de irrigação e diques para represar a água, projetar os monumentos, como templos e pirâmides. Isso originou o desenvolvimento da Astronomia e da Matemática.
Os astrônomos egípcios criaram um calendário solar, com a divisão do ano em 12 meses de 30 dias, acrescidos de 5 dias a cada ano. Identificaram estrelas fixas no céu, como Sírius, que provavelmente serviu de referência para a elaboração do calendário.
Na Matemática lançaram as bases da Aritmética e da Geometria. Executavam as operações aritméticas de adição, subtração e divisão e realizavam a multiplicação através de somas sucessivas. Estabeleceram formas de calcular as áreas dos triângulos, dos retângulos e dos hexágonos.
Em função da prática da mumificação, eles conseguiram avanços consideráveis na Medicina, como no tratamento das doenças com o uso de ervas medicinais, e no desenvolvimento de procedimentos cirúrgicos. Conheciam a importância do coração no funcionamento do organismo e fizeram o primeiro tratado sobre o preparo de medicamentos.
O talento artístico dos egípcios expressava-se nas grandes obras arquitetônicas, como os templos dedicados aos deuses.
O templo representava a casa do deus, que ele visitava quando aparecia na Terra. No interior dessa edificação existia uma câmara que guardava a estátua da divindade, lugar permitido somente aos sacerdotes. Os templos mais grandiosos foram erguidos em Luxor e Karnac. As paredes eram ornamentadas com pinturas e figuras em relevo.
A música também fazia parte da vida desse povo. Muitas atividades eram enriquecidas com apresentações musicais. Possuíam instrumentos de corda (harpas), de sopro (flauta) e de metal (trombetas).
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